- Por Dr. Sérgio Bucharles
A doença renal crônica (DRC) é atualmente definida como uma redução na taxa de filtração glomerular que ocorre por um período igual ou superior a três meses, acompanhada de alterações em exames laboratoriais (por exemplo presença quantidades anormais de sangue ou de proteína na urina), modificações em exames de imagem (por exemplo doença renal policística) ou alterações microscópicas, como as que ocorrem nas doenças glomerulares.
Os rins podem adoecer por condições próprias do tecido renal, como infecções urinárias, cálculos renais e doenças dos glomérulos (Glomerulonefrites), mas podem ser frequentemente envolvidos por doenças sistêmicas como a Hipertensão Arterial e o Diabetes Mellitus, que são, em conjunto, as duas principais causas de Doença Renal Crônica avançada, situação a qual exigirá que os pacientes necessitem de tratamento dialítico ou de transplante renal.
Acredita-se que a Doença Renal Crônica atinja cerca de 10% da população mundial, constituindo-se em um grande problema de saúde pública. Para fins epidemiológicos e buscando melhorar os cuidados com a doença, a mesma foi classificada em cinco estágios, de acordo com a progressiva perda na taxa de filtração glomerular, conforme abaixo.
Na medida em que os pacientes evoluem ao longo desses diversos estágios, diversas complicações da doença renal crônica surgem. Notadamente, os distúrbios do metabolismo mineral e ósseo relacionados à doença renal crônica são bastante frequentes e costumam se desenvolver de forma mais clara a partir do estágio 3 de evolução. Esses distúrbios podem incluir por exemplo alterações nas variáveis laboratoriais como aumento do fósforo no sangue (hiperfosfatemia) e aumento no paratormônio (hiperparatireoidismo), alterações em exames de radiografias (calcificações vasculares ou sinais de fraturas), bem como a chamada osteodistrofia renal, que são as modificações próprias do tecido ósseo que acontecem nos pacientes portadores de doença renal crônica, especialmente aqueles que dependem de diálise ou que estão transplantados (estágio 5), mas que podem se desenvolver em qualquer estágio da doença e que são especificamente avaliadas através do exame de biópsia óssea.
Existe um crescente interesse a respeito dessas doenças ósseas que se desenvolvem no ambiente da doença renal crônica, em razão das condições muito particulares que se desenrolam no organismo de nossos pacientes e também porque o diagnóstico preciso da enfermidade que acomete o tecido ósseo dos pacientes renais crônicos é fundamental para que o melhor tratamento seja estabelecido. Assim, o procedimento de biópsia óssea assume um papel muito importante no estudo dos distúrbios do metabolismo mineral e ósseo da população com doença renal crônica, já que é através dele que as mais precisas informações são obtidas a respeito da saúde óssea do paciente renal crônico.